quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Multiculturalismo na Sétima Arte



A época atual é chamada de Era da Informação, graças ao advento da internet; e deve-se a isso o fenômeno da globalização. Informações de todos os tipos podem ser encontradas facilmente; são detalhes das antigas religiões da Índia e da China, até os últimos avanços da ciência; passando por toda a literatura que restou desde os tempos remotos até hoje, rituais exóticos, filosofias de Buda e Platão até Sartre e Humberto Rohden. Mundos inteiros agora na palma da mão de quem tem um celular de última geração; artistas agora tem muito mais material de referencia do que serão capazes de usar em anos.
Culturas de diferentes épocas e diversos paises são usadas em conjunto no cinema e nos quadrinhos; de formas simples como filmes de época como “O Ultimo Samurai” ou a história de ninjas dos irmãos Wachowski; ou adaptações de obras japonesas para o cinema estadunidence, como “O Chamado” ou “Speed Racer”, e as intenções do ator e produtor Leonardo DiCaprio em adaptar o clássico de animação japonesa “Akira”, e James Cameron querendo fazer a sua versão cinematográfica do mangá “Gunn- Batlle Angel Alita”.
Um grande passo para o sincretismo cultural no cinema foi a Trilogia Matrix. A história-base do personagem Neo (Keanu Reeves) é claramente inspirada na alegoria do homem que saiu da caverna onde viveu a vida toda e pôde, assim, ver o mundo tal como ele é, e descobrir que as sombras na parede que ele aprendeu a encarar como verdadeiras eram, na realidade, ilusões. E as máquinas que mantinham as pessoas presas na “caverna” são o Demônio Maligno proposto por Descartes.
Quando está para sair da Matriz, o personagem Cypher alerta Neo: “Aperte os cintos, porque o Kansas vai sumir do mapa”, numa clara referencia ao clássico infantil “O Mágico de Oz”. Críticos de cinema relacionam Cypher a Judas, por ambos terem sido traidores, e o nome do personagem teria se originado do nome de Lúcifer, o anjo que se rebelou contra Deus, reforçando as menções bíblicas.
Na mesma cena, antes de ver a Realidade, Neo toca em um espelho, e se torna o espelho. A idéia vem dos ensinamentos do budismo, segundo o qual a mente deve ser como um espelho, que apenas reflete o que está à sua frente, sem julgar. A certa altura do filme, Neo encontra um garoto vestido como monge budista, que lhe passa mais algumas mensagens da tal religião.
Não é só o cinema dos Estados Unidos que busca no Oriental material de referencia, os animes e mangás (animação e quadrinhos japoneses, respectivamente) também usufruem da cultura ocidental. Os animes “Neon Gênesis Evangelion” e “Ergo Proxy”, e o mangá FullMetal Alchemist são ótimos exemplos. Evangelion, que Hollywood tenta há anos produzir uma versão própria, apesar de ser japonês, usa e abusa de elementos da filosofia nascida na Europa e da religião cristã.
Na história, em que monstros gigantes atacam o planeta, cada um desses entes recebe o nome de um anjo, e, para proteger a Terra, são feitos clones de Adão, o primeiro anjo, que recebem o nome de Evas ou Evangelion. Um dos anjos que aparece mais tarde na série chama-se Lilith, suposta primeira esposa de Adão em certa vertente da mitologia cristã, e uma arma usada contra os anjos é uma lança gigante chamada Lança de Longinus. Longinus seria o soldado responsável por matar Jesus Cristo.
O anime, que é profundamente filosófico, não deixa de fazer insinuações à teorias como o eterno retorno proposto por Nietzsche, ou o sistema Sephroth (a Árvore da Vida da Cabala). No capítulo em que um anjo tentar entrar na mente de um dos personagens, fazendo com que a pessoa fique extremamente desesperada, recebe o título de “Doença até a Morte”, como no livro do filósofo Kiekegaard, “O Desespero Humano (Doença até a Morte)”, de 1849.
Ergo Proxy, como é possível notar, tem seu nome inspirado na célebre frase de René Descartes, “cogito, ergo sum” (penso, logo existo). Outras referencias são a Alegoria da Caverna, de Platão, base do roteiro; o filme “City Lights”, de Chaplin, que na história aparece como uma biblioteca com esse nome, onde o dono fala do significado de palavras gregas e cita filósofos como Rousseau, num capítulo introspectivo; mitologia grega, com o personagem Dédalos (pai de Ícaro, confeccionou dois pares de asas feitas de cera para poder voar, mas seu filho voou alto demais e teve a cera desfeita pelo Sol), no anime, desprezado por sua amada, Dédalos fez um clone alado dela, mas ela, ouvindo a voz do “Criador”, foi até o seu encontro, no céu, mas suas células eram intolerantes à luz, e acabou morrendo. Essas células são chamadas de “amrit”, que na mitologia hindu, é uma bebida que concede imortalidade a quem a toma.
Basta um pouco de pesquisa para encontrar as diversas menções que um filme ou série faz a culturas de lugares distantes. O cartoon (desenho animado estadunisdense) “Avatar- O Ultimo Dominador de Ar” trás religiões orientais, estilo de anime, o Mundo das Idéias de Platão e o mundo criado por Tolkien em “O Senhor dos Anéis”. No filme “Avatar” de James Cameron, os avatares e navis são azuis porque a palavra avatar é de origem sânscrita, e designava as encarnações do deus da vida, Vshinu, que é representado como tendo a pele de cor azul, e sua mais famosa encarnação, Krishna, era azul também. Os filmes da Disney “O Rei Leão” e “O Rei Leão 2” tem seus enredos baseados nas obras shakespearianas “Hamlet” e “Romeu e Julieta”, respectivamente, e “Atlantis” dispensa comentários. “Bewolf”, além de filme, é uma lenda de culturas antigas. Já foram feitas várias versões cinematográficas de “O Fantasma da Ópera”, das obras de Lewis Carrol (autor de “Alice no País das Maravilhas” e “Alice através do Espelho”) e Homero (suposto autor da “Ilíada” e “Odisséia”), e as histórias do rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda. Bruxos, vampiros e lobisomens são personagens que estão constantemente nas telas (vide “Harry Potter” “Crepúsculo” “Anjos da Noite” “Um Lobisomem Americano na França” “Dracula” entre muitos outros).
O antigo conceito da filosofia hindu do Registro Akashic tomou forma hoje, e todo o conhecimento e feitos da humanidade estão acessíveis. Prato cheio para os artistas de todas as faculdades, principalmente os cineastas, da arte mais popular da atualidade.

sábado, 14 de agosto de 2010

O Grande Irmão te observa. Aprenda a ficar invisível.



Essa frase é da HQ de Grant Morrison, “Os Invisíveis”, que, por sua vez, foi inspirada no clássico de ficção distópica de George Orwell, 1984 . Motivo pelo qual estou fazendo essas citações: nós, seres humanos, não exercemos nosso livre-arbítrio, somos controlados. Por quem? Não por uma pessoa (possivelmente), mas um sistema que já tomou conta de nossas vidas.
Estou falando de Alienação, agimos sem saber o porquê de estarmos fazendo tal coisa. O Grande Irmão, o Vírus-Cidade, a Matriz, a Política e a Economia, a própria vida mecanizada e sem reflexão, são diferentes noções de alienação.
Há um Fluxo guiando-nos. Para onde, ainda é incerto, porém as teorias não são otimistas. Sair do Fluxo é aparentemente impossível, afinal, tudo está ligado a tudo, humanos conectados uns com os outros e com tudo mais que existe, possuímos uma responsabilidade inata para com tudo que há.
Isso significa que seguir o fluxo é bom ou ruim? A resposta é incerta, então o mínimo que se deve ter é a consciência desse Sistema. Como obter essa consciência? Esse é o tema do blog Blidance, Dança de Cegos. “Think yourself, question authority” é o seu lema.
Várias vezes, em conversas com amigos e colegas, disseram-me que é muito difícil encontrar pessoas inteligentes e boas para se relacionar e conviver. Sempre respondi que isso é mentira, que pessoas que valem a pena ter por perto (tanto pelo carisma quanto pelo intelecto) são muitas e estão bem espalhadas por ai, basta abrir bem os olhos. Talvez eu tenha sorte por encontrar tantas pessoas assim, o que eu me recuso a acreditar.
Assim como o objetivo desse blog é tratar de vários temas sob um ponto de vista crítico e filosófico, Dança de Cegos discute as várias formas de manipulação, estuda o Fluxo, e procura uma forma de se libertar.
“The Matrix hás you.” Liberte-se do controle, todos tem direito a vida, faça-o valer, faça-a valer. Talvez seja mais fácil fazê-lo se você tiver um guia. Apresento-lhes a tal guia, agora a escolha de segui-la Fluxo a fora é de vocês.
http://blindance.blogspot.com/


Esse post é dedicado à Beatriz.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Bienal do livro 2010



Começando amanhã, dia 12 de agosto,a Vigésima primeira Bienal Internacional do Livro de São Paulo!!
http://www.bienaldolivrosp.com.br/
Bienal Internacional do Livro de São Paulo é o grande momento do livro no Brasil. É palco para o encontro das principais editoras, livrarias e distribuidoras do país, que preparam seus lançamentos para esse período.
Um local de bons negócios! Atrai jornalistas, empresários e escritores do mundo inteiro e com ótima visibilidade na mídia.
Além da larga oferta de livros, a Bienal do Livro oferece uma intensa programação cultural, desenvolvida para despertar o gosto pela leitura em mais de 700 mil pessoas, entre crianças, jovens e adultos. Algumas atividades estão previstas para personalizar ainda mais a programação, durante os 11 dias do evento.
Os números iniciais já permitem antever que a 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo será um marco na história das Bienais. Alguns deles:
350 expositores nacionais e estrangeiros, representando mais de 900 selos editoriais
Público esperado acima de 700 mil pessoas
Visitação escolar programada para receber mais de 180 mil estudantes do Ensino Fundamental e Médio

21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo
Data e Horário:
Dia 12 de Agosto: das 10h às 22h
- Exclusivo para os profissionais do setor literário
Dia 13 de Agosto: das 10h às 22h PROMOÇÃO ESPECIAL!*
- Público em geral
Dias 13 a 21 de Agosto: das 10h às 22h
- Público em geral

Dia 22 de Agosto: das 10h às 20h, com entrada só até às 18h
- Público em geral

*PROMOÇÃO ESPECIAL! Entrada gratuita para quem comparecer ao evento fantasiado do seu personagem favorito.
Para validar a sua entrada na Bienal do Livro é obrigatório apresentar uma foto do personagem representado.

Local:
Pavilhão de Exposições do Anhembi
São Paulo, SP

Ingressos: vendas apenas na bilheteria da Bienal do Livro de São Paulo
Entrada inteira – R$ 10,00
Meia-entrada – R$ 5,00**

**Os estudantes devem apresentar documento de identificação estudantil com data de validade. Caso no documento apresentado não conste data de validade, deverá ser apresentado outro que comprove a matrícula ou a frequência no ano letivo em curso acompanhado de carteira de identidade.

Os idosos, acima de 60 anos, não pagam ingresso apresentando carteira de identidade para comprovação.

Menores de 12 anos não pagam.

sábado, 7 de agosto de 2010

Arte sobre Arte



O que lhe vem à mente quando ouve a expressão “arte pela arte”? Quando meu professor de literatura me fez essa pergunta, pensei no quadrinhista inglês Allan Moore. Para quem não o conhece, tente se lembrar dos filmes “A Liga Extraordinária”, “Watchemen” ou “V de Vingança”. Todos ótimos filmes, que foram baseados nos quadrinhos criados e escritos por Moore.
Por que pensei nele? Considero Moore o que o quadrinhista norte-americano Scott McCloud chama de Formalista. Classificando as quatro culturas/valores dos artistas de quadrinhos (e também dos artistas em geral), McCloud assim descreveu os formalistas: “(...) (possuem/demonstram) devoção aos quadrinhos (à forma de arte escolhida) em si, à descoberta do que a forma quadrinhística (arte escolhida) pode fazer. A ansiedade de virar os quadrinhos (a arte) pelo avesso, de ponta-cabeça, num esforço de compreender mais plenamente seu potencial. A disposição de deixar que a arte e a história ocupem um papel secundário, se for preciso, na busca por novas idéias capazes de mudar os quadrinhos (a arte) para melhor.”
Allan Moore nunca deixou o roteiro de suas obras em segundo plano (suas histórias são de complexidade, profundidade e qualidade quase incomparáveis), mas sua característica mais marcante é a disposição “para virar os quadrinhos pelo avesso”: hQ é uma mídia muda, o que não o impede de escrever um capítulo que é guiado pelo som do piano ( como acontece em “V de Vingança”); imagine 22 paginas de quadrinhos, em que as informações da história, assim como falas de personagens, são dadas por propagandas de televisão (também em “V de Vingança”), ou uma pagina em que o enquadrinhamento é dado pelo mapa de uma cidade (Promethea)! Uma de suas obras mais importantes, “Watchmen”, ficou famosa por, entre (muitas) outras coisas, usar no mainstream elementos do underground.
Essa vontade de explorar a arte para saber o que ela é capaz de fazer que é “arte pela Arte”. Devo admitir que fiquei decepcionado quando meu professor de literatura explicou o Parnasianismo. Foi feito um ótimo trabalho, bonito, mas os ideais estavam errados, eles não fizeram arte pela arte, mas arte sobre arte. Não a exploraram, mas a limitaram em uma estrutura rígida; não quiseram saber do que a poesia era capaz, usaram-na para exaltar a escultura.
Algum tempo atrás vi o filme “Utena Revolutionary Girl” (ou “Adolescence of Utena”). Não foi um dos melhores filmes que já vi, não foi para a lista de favoritos nem de recomendados, mas foi uma das histórias mais subjetivas que pude conhecer até agora. Não tinha nenhuma mensagem explicita na obra, mas o objetivo era fazer um trabalho artístico, e foi bem sucedido. “Para mim, é fácil explicar essas imagens, mas não quero fazer isso. Se eu explicasse todos acreditariam que essa é a única interpretação possível. Quero que as pessoas saibam que há muitas possibilidades de interpretar o filme segundo suas próprias visões", explica o diretor. Filme vazio? Não, o objetivo era criar imagens artísticas, sem valor pratico, mas não sem importância.
Lembro-me também do texto “A dama no espelho: reflexo e reflexão”, de Virginia Woolf. A narradora do conto é uma visitante que contempla sua anfitriã pelo espelho do vestíbulo, e sua imaginação cria asas, tentado desvendar os segredos daquela mulher misteriosa que é a dona da casa. A fantasia chega ao fim quando a senhora chega, e a narradora é obrigada a olhar diretamente para ela, não mais pelo espelho, decepcionando-se quando percebe que não há mulher misteriosa alguma, apenas uma pessoa de idade.
O conto é o registro de uma simples fantasia, um pequeno exercício de imaginação. Fútil? O texto é ótimo, uma prática que talvez muitos tenham esquecido hoje em dia. E, se não esqueceram, não reconhecem mais sua importância.
“Escolhendo a Forma, ele (o artista) estaria se tornando um explorador. Sua meta: descobrir tudo sobre a forma artística. E sua arte não teria falta de idéias ou de propósito. Sua arte simplesmente se tornaria seu propósito e suas idéias surgiriam para lhe dar substancia. Os criadores que seguem por esse caminho são pioneiros e revolucionários – desejam sacudir as coisas, mudar a maneira das pessoas pensarem, questionar as leis fundamentais que governam sua arte. (em outras formas de arte: Stravinsky, Picasso, Virginia Woolf, Orson Welles, etc.)”( Desvendando os Quadrinhos, Scott McCloud, editora M. Books, pág. 179)
Isso sim, é arte pela Arte.