quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Segunda Parte: Relação indivíduo e ambiente




“Os olhos de um ser humano não servem apenas para enxergar o mundo que está diante dele, serve também para refletir a si mesmo ao mundo exterior.” – Hideo Yamamoto, “Homunculus”

Nesse texto entende-se por “ambiente” todas as informações que um indivíduo recebe em um determinado espaço, tempo, pessoas e objetos, sua interação com tudo que o cerca. O local, a situação, as pessoas e tudo o mais são fontes de informação que o indivíduo usa para formar sua noção do mundo.
As informações são simplesmente lançadas no ar, e cada um, ao entrar em contato com essas informações, absorve-as e as interpreta através do cérebro, que usa as experiências (bagagem mental: cultura, memórias, conceitos) como base para esse trabalho.
Em se tratando de um ser já formado, que possui experiências próprias e um conceito de individualidade e identidade já definidos, a interpretação das informações não é imparcial, mas usa como base tudo aquilo que a pessoa já conhece.
Um exercício simples, mas eficaz: quando uma pessoa não se sente bem, as coisas ao redor dela não lhe parecem tão agradáveis quanto seriam se ela estivesse melhor. Isso porque ela interpreta as informações que recebe com base no que ela é ou sente. Logo, se está bem, tudo está bem, e vice-versa. Esse é o poder da interpretação.
Viver é sinônimo de interação, que leva a interpretações daquilo com que se interage. Paz de espírito é a capacidade de aceitar as coisas como são, mesmo os males e as limitações, que fazem parte da vida, e devem ser aproveitados como forma de crescer.
Quanto sofrimento poderia ser evitado se as pessoas parassem de julgar tanto e aceitassem melhor que há pontos de vista diferentes? Ou se percebessem que a forma como elas escolhem encarar as situações influem no modo como tudo irá se desenrolar? As situações servem para descobrirmos mais sobre nós mesmos, devem ser usadas para aprender. O poder da escolha molda a o ambiente ao redor do indivíduo.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Relação indivíduo e ambiente


Primeira Parte: o Indivíduo
“Ao que nos compete discernir, o único propósito da existência humana é lançar uma luz nas trevas do mero ser.” – C. G. Jung “Lembranças, sonhos e reflexões”


A primeira parte do trabalho é, antes, uma introdução ao tema do que uma abordagem direta. Antes de se discutir sobre a relação do indivíduo com o ambiente que o cerca é necessário ter noção do que é o indivíduo. Dois pontos de vista serão comentados aqui: o exposto pelo cantor Oswaldo Montenegro em sua musica “Metade”, e a proposta por Alice Jamieson em seu livro “Hoje eu sou Alice”.
“Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso/ que me lembro ter dado na infância/ pois metade de mim é a lembrança do que fui/ a outra metade não sei”, esse trecho da musica “Metade” define o ser humano dividindo-o em duas partes. As lembranças são parte importantíssima da individualidade, representam as experiências que apenas aquele indivíduo tem, é o registro do seu ponto de vista do mundo. E se a primeira metade é a lembrança do que se foi, a segunda metade, que o artista não sabe o que é, é o Eu do momento, a pessoa consciente no instante em que age. Esse Eu só existe por um momento, mas é importantíssimo, pois é o que age, o que toma decisões.
Levemos em conta essas duas metades propostas por Oswaldo Montenegro como apenas dois quartos da essência do ser humano. As outras duas partes foram propostas também como metades do ser humano por Alice Jamieson em seu livro autobiográfico “Hoje eu sou Alice”. Ela sugere que as pessoas são formadas por suas escolhas e pela forma como lidam com as consequências destas. Escolhas e consequencias, características que serão consideradas, ao longo dessa dissertação, como os dois últimos quartos que compõem a essência humana.
A trama da série de livros infanto-juvenis “Harry Potter” desenvolve-se com base no preconceito que a comunidade bruxa tem de todos aqueles não-bruxos. (que inclui, além dos humanos normais, todos os seres imaginários que compõem a mitologia da obra, contanto com gigantes, elfos, dragões, entre muitos outros) O verdadeiro herói da série (não, não é o Harry Potter, ele é só um instrumento) é também o que carrega o peso do estereótipo de velho sábio, Alvus Dumbledore. É ele quem representa (e luta pelo) ideal de bem na história, sendo um crítico severo à visão de supremacia dos bruxos. Sua filosofia é de que “mais importante do que as características com que uma pessoa nasce, são as decisões que ela toda ao longo da vida”. Dumbledores tenta deixar claro (eficientemente) sua convicção de que o ambiente em que uma pessoa vive não é mais importante na formação do caráter dela do que as escolhas que ele toma enquanto cresce.
Quanto às consequencias das escolhas, é algo natural desse mundo regido pela lei de causa e efeito. Na comunidade do Orkut “eu não tenho livre-arbítrio”, as pessoas se justificam com frases vazias de que “não posso ser quem eu sou porque a sociedade não me deixa.” O problema dessas pessoas não é o externo, mas, sim, interno, o que as impede se serem “o que realmente são” é o medo de enfrentar as consequencias que isso trará. Nada mais. O ambiente é muito influente na determinação do caráter do indivíduo, mas não é determinante, enquanto houver possibilidade de escolha. Dizem que é preferível morrer livre do que viver escravo (o inverso também é muito dito), essa é uma questão tão radical de valores que pode definir a história inteira da pessoa que se faz esse questionamento, mas ainda é uma escolha que faz toda a diferença, então ainda é possível manter sua liberdade e, logo, sua identidade. Mesmo quem toma a decisão fácil e abdica de sua personalidade para ser “aquilo que a sociedade estabelece” também sofre as consequencias de sua escolha: a perda da própria identidade.
As quatro bases da essência humana são a bagagem cultural (lembranças, como disse Oswaldo Montenegro), o ego, as decisões e as consequencias. A lembrança de tudo que uma pessoa foi será sintetizada ao Eu do momento por uma escolha, e o que resultará disso é a consequencia. Está definido o indivíduo.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O poder para revolucionar o mundo



A mídia controla a forma como as pessoas veem a realidade, ela interpreta os fatos, é parcial, revela só aqui que lhe é conveniente e oculta o resto. Quem é cômodo o bastante para aceitar o que vê em um único noticiário da TV, sem procurar por outras fontes de informação, ou se recusa a pensar criticamente, será manipulado pela mídia, por aqueles que tem poder.
Essa manipulação da realidade por parte da mídia é bem ironizada no filme “Chicago” (baseado no musical homônimo). Billy Flynn, advogado e co-protagonista, compara a realidade a um circo: basta fazer um show que agrade às pessoas, e elas aceitarão como verdade. No filme, em que ele é advogado de uma mulher que matou o amante, que a iludiu dizendo que a tornaria uma estrela da música, ele tenta criar a imagem de que sua cliente é uma mulher boa, arrependida, religiosa, boa samaritana, entre outras mentiras.
A realidade é manejável, e quem tem poder faz dela o que quiser. Na HQ Watchmen (do britânico Alan Moore), por exemplo, ambientada na Guerra Fria (porque foi escrita durante ela), há o personagem chamado Dr. Manhatan, o primeiro e único super-ser do mundo onde acontece a história. Dr. Manhatan era apenas um cientista, mas, depois de um acidente com um experimento nuclear, ganhou poderes sobre-humanos. Ele acaba sendo usado por seu país (EUA), como símbolo do poder americano, por isso recebe esse nome, segundo ele “eles explicam que o nome foi escolhido pelas imagens agourentas que despertará nos inimigos da América. Estão me transformando em algo vistoso e letal...”
Os símbolos que a mídia usada para mostrar a sua interpretação da realidade são ainda mais explorado no decorrer da HQ de Alan Moore. Referindo-se ainda ao Dr. Manhatan, a mídia popularizou a frase “o super-homem existe, e ele é americano”, aumentando a imagem da supremacia dos EUA. Depois disso, a história mostra uma entrevista com o cientista que criou a tal frase, mas ele a nega, falando que nunca disse que “o super-homem existe”, mas sim “Deus existe, e ele é americano”. Ele até diz que o medo que essa frase pode causar é prova de que as pessoas que o sentirem ainda estão sãs. ( dá medo mesmo....)
De fato, os humanos aceitam uma série de símbolos como verdadeiros. Fernando Reinach, biólogo, escreveu uma matéria para o jornal Folha de São Paulo que dizia respeito a um experimento suíço que resultou na descoberta sobre o “porque os políticos fazem plástica antes da eleição” (nome da matéria). Como o cérebro humano não se desenvolveu de forma a poder escolher um líder com quem nunca interagiu, os métodos para escolher os políticos são primitivos, as pessoas são levadas a escolher pela imagem física da pessoa.
Mas, não só através de símbolos a mídia pode ser usada para manipular, e até controlar, a população. Outro caso tirado da ficção, na HQ Transmetropolitan, de Warren Ellis, protagonizada por um jornalista radical, que consegue, no primeiro arco da história, parar uma repressão policial, publicando, em tempo real, um texto que relatava as atrocidades e as injustiças políticas que estava acontecendo; o governo teve de mandar os policiais pararem a repressão, graças à matéria que o jornalista escreveu e foi publicada na internet e nos maiores canais de TV da história. Assim, sem hesitação ou piedade, Spider Jerusalém, protagonista da HQ, ataca organizações, políticos e religiões, sempre pela verdade e justiça, apesar de ser extremamente radical, também não se importando em resolver seus problemas com violência ou manipulação.
Um artista uma vez escreveu algo como “a mídia diz o que ouve, não o que houve”, ela sabe manipular informações para fornecer a interpretação da realidade que ela quiser, para colocar diante dos olhos das pessoas um mundo irreal, cujos símbolos, ironicamente mais atraentes do que a realidade, tem mais peso e força do que a verdade.A idéia de transformar a verdade em um circo de acordo com a vontade de quem tem poder é bem expressa em uma cena do filme O Corcunda de Notre Dame, da Disney, quando Quasimodo e o cavaleiro Febo estão para ser mortos pelos ciganos, e o líder, que vai matá-los em uma exibição, canta “sua inocência podemos ver, o que é ainda pior.... Pois ainda vão morrer!”

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O preço de se obter o que se deseja...


Há uma confusão geral entre o que trás “felicidade” e o que é “melhor”. O anseio de se sentir bem faz com que as pessoas ignorem a importância do sofrimento, da tristeza, da desilusão. Não, esse texto não é um manifesto a favor do masoquismo, mas uma consideração: se houvesse maior valorização desses assim chamados males não haveria tantas vidas perdidas com drogas e brigas, não haveria tanta competição, a vida seria mais leve, muito mais.
Dizem alguns filósofos que a vida é sofrimento, porque desejamos algo e sofremos por não tê-lo e, se viermos a obter o que desejamos, logo desejaremos outra coisa, voltando a sofrer. Sabe-se também que nada é eterno, bens estimados podem quebrar, se perder ou ser roubados, assim como as pessoas vem e vão. Formas de sofrimento são tão variadas quanto de felicidade.
“O que ganho eu, se obtenho o que desejo? Um sonho, um alento, uma espuma de alegria fugaz. Quem compra um minuto de deleite para chorar uma semana? Ou vende a eternidade para obter um brinquedo?” (Shakespeare) Ter tudo aquilo que se pode desejar faz mal ao ego, mima e faz a pessoa pecar por orgulho e ganância. E há coisas que simplesmente não podem ser obtidas. A idéia de pose por si só já é uma perversão.
Estar vivo é estar suscetível a dor, mas não há nada de errado nisso. Deve-se aceitar que a dor ajuda a amadurecer, que a desilusão ensina que não se deve julgar (apenas viver), e o sofrimento nos dá compaixão.
Se as pessoas aceitassem que há ganhos e perdas, vida e morte, sorte e acidentes, bem-estar e doenças, não se apegariam a drogas, não se alienariam, nem seriam tão vingativas. A falta de males não é nada benéfica.
Não se deve se preocupar com o que é inevitável ou impermanente, deve-se aceitar isso como natural, pois é. E se fugir da dor não é bom, deve-se aceita-la também, aproveitá-la. Como diz a musica dos Titans “fugir da dor é fugir da própria cura.”
A paz de espírito supera a alegria e a tristeza. Se a felicidade sublime pode ser descrita, ela será comparada à paz de espírito.