quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.


A Existência segue a Essência ou é o contrário? Ambas se criam juntas e constroem uma a outra. A Existência é a manifestação da Essência, mas aquela possui inúmeras formas, sendo então a Essência infinita e tão subjetivo que não se pode por em palavras, uma vez que definir é limitar. Do ponto de vista existencial, a Essência é o Não-Existencial. É como se ela fosse o Nada, ou fosse nada. Assim sendo, pergunta-se se algo possui valor em si, intrínseco. Talvez a terrível resposta seja não.
Então de que vale Liberdade, Verdade, Integridade, Identidade? Talvez o Valor Real não tenha nome, se houver algo a ser considerado maior. “A ser considerado maior” esse termo merece atenção, esses ideais só têm valor se as pessoas lhes dão, se consideram importantes. Como sempre, o problema é a escolha. O niilismo que nos cerca pode parecer assustador.
Então qual é o maior dos valores? O que falta receber nome? Por que Liberdade é pouco? A condenação é quase insuportável, as responsabilidades são tantas, que muitos prefeririam o conforto de não ser dono da própria vida. Talvez alguns acreditassem não serem capazes de ser felizes assim. As pessoas só querem ser felizes, quem há de culpá-las?
E se a Liberdade acarretar em outras coisas? Os personagens da HQ e Filme “Watchmen” perdem a liberdade ao ter de colocar na balança a Verdade em um prato e a Paz em outro. A linha que divide a Liberdade e a Libertinagem, assim como o Bem e o Mal, torna-se tênue, fazendo com que o vilão se torne herói e o herói, vilão; e, pior, justifica um holocausto e torna o herói um assassino. “Uma paz fundada na mentira” “mas Paz acima de tudo” “você tem de proteger esta utopia, que diferença faz mais um cadáver entre suas fundações?”
Um dos momentos mais tocantes da HQ/Filme “V de Vingança” é quando é contada a história da personagem Válerie. Prisioneira de guerra, Valerie vê que não pode ter sua liberdade de volta, nem sua vida, nem a pessoa que ela amava. Ela sabe que morrerá logo, mas até a vida perdeu o valor. Mas ela não se perdeu, mas sim, descobriu sua Integridade. Homossexual num mundo extremamente preconceituoso (ela conta de quando “diferente” virou sinônimo de “perigoso”, sem entender porque as pessoas odiavam tanto os diferentes ), desde cedo ela se perguntava como poderia ser feliz, por que ser quem ela era chateou tanto os seus pais?, seria ela uma egoísta? Não, ela manteve sua Integridade, descobriu algo que realmente importava.
Mas o protagonista dessa história, chamado V, teve a mesma experiência que Valerie, e descobriu, primeiramente, outra coisa: o ódio. “Eu só conhecia o ódio, ele construiu meu mundo. O ódio me ensinou a comer, a beber, a respirar. Pensei que morreria com tanto ódio nas minhas veias.” Seu maior valor foi o ódio e o enredo se desenvolve sem que se distinga se V é um libertador ou um opressor, um herói ou um louco atrás de vingança, podendo ser ele mesmo uma ameaça ao que acredita.
Mas V lutou pela liberdade, acima de tudo. Para ele, a liberdade foi mais importante que a integridade. “Ele pensava mais na vingança do que nela.”
Valerie disse que Integridade nos torna livres. No prefácio da edição brasileira do livro “Matrix- Bem-Vindo ao Deserto do Real”, o editor menciona o livro “1984”, de George Orwell, dizendo “Em um mundo onde o Estado domina e nada é de ninguém, mas tudo é de todos, tudo que resta de privado são os poucos centímetros quadrados do nosso cérebro.” Centímetros esses que foram violados no filme “The Matrix”. Mas Trinity alega que “a Matriz não pode lhe dizer quem você é.”
Integridade e Verdade estão relacionadas. Valerie, Evey (também de “V de Vingança”) e Neo (de “The Matrix”) não poderiam ser íntegros (verdadeiros) sem saberem quem realmente são. E a Integridade de um jornalista ou policial? Assim como em “Watchmen”, Mikael Blomkvist, da “Trilogia Millennium” é varias vezes obrigado a esconder a verdade sobre grandes criminosos para proteger a vida e a integridade de outras pessoas, inocentes e vítimas. Ele ignora sua própria integridade côo jornalista e também a lei, para cuidar de outras pessoas.
Apesar de todo esse niilismo, a falta de significado não é, de forma alguma, desesperadora. É maravilhosa a discução sobre Escolha na trilogia "Matrix". Na luta final entre Neo e Smith, este pergunta "Por que, sr. Anderson, por que? Por que está fazendo isso? Por que se levantar? Por que continuar lutando? Acredita que está lutando por algo mais do que sua própria sobrevivencia? Pode me dizer o que é? Será que sabe? Será por liberdade? Verdade? Talvez por paz! Será que é po amor? Ilusões, sr. Anderson. Defeitos da percepção. Criações temporárias de um fraco intelecto humano tentando desesperadamente justficar uma existencia sem sentido ou meta! E todas elas são tão artificiais quanto a própria Matriz, embora só a mente humana pudesse criar algo tão insosso quanto o amor. Deve ser capaz de enxergar, de saber, a esta altura que não pode vencer! É inutil continuar lutando! por que, sr. Anderson? Por que você persiste!?"
Smith está certo. Neo objetiva a paz entre humanos e máquinas, mas mesmo isso não lhe diria respeito se ele não quisesse. Ele sempre teve a escolha de desistir e virar as costas. A Oráculo lhe disse que ele teria essa escolha. Escolha, sempre escolha. “O problema é a escolha” Neo disse certa vez. Toda a filosofia da trilogia tem como base a Liberdade de Escolha, e não a discução sobre mundo real ou mundo de sonhos, como muitas pessoas pensam e acabam por desconsiderar o Reloaded e o Revolutions.
Neo é um herói quase divino, tem um papel messiânico na história, mas não tenta ser dono da verdade. Ele não responde ao Smith com argumentos contra o niilismo deste, ele sabe que Smith está certo. Então a resposta é pequena, quase vaga, mas verdadeira: “porque está é a minha escolha.”
Na época do lançamento da versão cinematográfica da sua garfic novel “300”, Frank Miller deu entrevistas onde deixou claras algumas de suas filosofias. Segundo ele, um herói não é quem tem um distintivo ou é aplaudido no final, mas aquele que faz o certo porque é certo, mesmo que não vá receber o devido reconhecimento. Seus personagens, os 300 espartanos que lutaram contra o Império Persa de Xerxes, deixaram para trás suas familias e amigos, sabiam que iriam morrer, por isso nem mesmo a vida era tão valiosa para eles. O que, então, era mais importante? Eles representavam ideias de igualdade, liberdade, democrasia. Era para isso que eles lutavam? De certa forma sim, mas não só. Eles sabiam que morreriam sem derrotar o exército inimigo. Então, de que valia a pena lutar?
Eles morreram por uma imagem. Ou melhor, para destruir a imagem que o Império Persa tinha. Acreditavam que aquele exército era imortal, então os espartanos lutaram para acabar com essa imagem, e mostrar que até mesmo o auto intitulado Deus Xerxes podia sangrar. A imagem destruida foi o que encorajou os demais povos da Grécia a lutar contra os persas também.
Imagens são ambiguas. Tanto representam quanto velam mensagens. “The Dark Knight”, o ultimo filme do Batman, teve tanta ação e efeitos especiais capazes de deixar louco quem quer que assistisse. Heath Ledger tornou seu Coringa um personagem único e exclusivo, e não apenas uma versão live-action do personagem dos quadrinhos. Mas não foram esses elements que tornaram “O Cavaleiro das Trevas” um filme tão bom, muito embora tenham contribuido.
O enredo do filme discute a questão das imagens, contra-balanceando o cavaleiro das trevas, Batman, com o cavaleiro branco, Harvey Dent. Enquanto aquele é um mascarado que faz justiça com as prórpias mãos, Harvey é um promotor público disposto a fazer o bem, inspirando toda a população de Gotham. Um é um herói que a cidade precisa, e outro é o que a cidade merece. O relacionamento entre os dois, assim como o jogo de imagens, é levado ao extremo com o personagem Coringa. Este sabe que Harvey é a inspiração de Gotham, então seu verdadeiro inimigo no filme não é o morcego. Coringa quer tirar a esperança das pessoas, e para isso precisa mostrar que até mesmo o melhor dentre eles, ou seja Harvey Dent, pode mudar de lado e se tornar um assassino louco. Coringa é responsavel por mostrar as duas faces do Duas-Caras. “Ou você morre heroi, ou vive o bastante para ver você mesmo se tornar vilão” disse Harvey.
O final do filme é lindo, porque Batman entende o jogo de imagens, e decide se tornar vilão, para que Harvey seja um herói e continue a inspirar a população de Gotham. “As vezes, a verdade não é boa o bastante. As vezes, as pessoas merecem mais. As vezes, as pessoas merecem ter sua fé recompensada.” Assim Batman deixa de ser herói, deixa a Verdade, deixa sua liberdade. O terceiro filme enfrenta dificuldades porque um de seus atores principais morreu, e fez o favor de ser tão bom que se tornou insubstituível. Talvez nunca saibamos pelo que o Batman lutaria. Mas ele perdeu tudo, em troca de algo que não foi nomeado ainda.
Só a Clarice Linspector pode entender o Batman. Ambos sabem. “Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.”

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O que realmente importa?

Olá meus leitores,
Quero me desculpar pela minha ausencia nessas ultimas semanas. Passei lendo (tentando entender o que há de tão bom no “Guia do Mochileiro das Galáxias”, em vão, mas a “Trilogia Millennium” se mostra valorosa por enquanto) e assitindo videos (deixei para ver os extras de “300” na ultima hora, mas as entrevistas foram ótimas; e, putz!, o making of do primeiro “Matrix” tem duas horas de duração! O filme só tem duas horas e quinze minutos!), mas não pretendo ficar muito mais tempo sem escrever.
Quero divulgar um novo trabalho, feito em conjunto com dois conhecidos meus, a Beatriz (que já foi apresentada no post “O grande irmão te observa. Aprenda a ficar invisível”) e o Vitor.
De nossasdiscuções, resolvemos criar um blog em conjunto. Disso resultou o Xeque Mate (não me recordo direito de que idéia saiu esse nome, mas eu que sugeri, rs. Fiquei supreso deles terem gostado).
O primeiro tema discutido no blog é sobre a adoção de crianças por casais homoafetivos, tema sugerido pela Beatriz (mesmo coisa do nome, ela falou sem pensar, mas eu e o Vitor gostamos tanto que na hora fiou decidido que este seria o primeiro tema).
São tres texto, um de cada membro, mostrando suas opiniões a respeito do tema.
Depois de ler, é com vocês pensar no que realmente importa.
http://vidaemxeque.blogspot.com/