sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Imagem do medo



“Não há nada a temer exceto o próprio medo”, essa frase não é apenas uma tentativa de encorajamento, mas uma idéia tão profunda, que quem conhece suas verdadeiras possibilidades pode até mesmo temê-la. Perdoem-me os spoilers (revelações de enredos de filmes, livros e HQs) que estarão por toda essa matéria.
No filme “quem somos nós”, baseado no livro homônimo, é dito que “não nos apaixonamos por uma pessoa, mas pela expectativa”. O mesmo vale para o medo, uma imagem, uma idéia, é suficiente para causar tantos males quanto a fonte de medo em sí. Basta pensar no filme/livro “Anjos e demonios”: a idéia de forjar um ataque de um grupo inimigo da igreja, os Iluminati, era que o medo seria suficiente para juntar os fiéis de todo o mundo, dando forças para que a religião continuasse viva num mundo em que a ciência possui todas as respostas.
Tal plano não funcionou, mas porque foi descoberto antes de ser finalizado. Há ainda o exemplo da HQ “Watchmen”, de Allan Moore e Dave Gibbons, ambientado na Guerra Fria, em que, para unir o mundo dividido entre as ideologias capitalistas e socialistas e evitar a morte de bilhões em uma Terceira Guerra Mundial, o “vilão” (entre aspas porque, ao mesmo tempo, ele é um herói, se assim você puder julgá-lo) faz com que as pessoas acreditem que haja uma terceira ameaça, vinda do espaço. Temendo um ataque extra-terrestre, ambos os lados deixaram suas diferenças de lado e se uniram para proteger a Terra de um mal externo.
Talvez criar uma imagem que dê medo às pessoas possa ser um simples jogo de palavras. Christopher Goodman, o clone de Jesus Cristo na série de livros “O Clone de Cristo” (ah vá!), soube reinterpretar as ações de Deus (que, na série é o vilão) para fazê-lo parecer algo que não era.
V, de “V de Vinguança”, usou um programa de TV e o mesmo jogo de palavras para tirar a imagem de medo que as pessoas tinham do governo fascista em que viviam. É de se pensar no quanto as imagens são criadas por manipuladores que possuem (ou encontram) oportunidades para fazer valer como verdade os pontos de vista quem mais lhes convêm.